segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

O que Há De Errado Com o Carnaval ????


O que há de errado com o carnava


Na televisão vejo “Se pintar uma grande paixão use camisinha”. Isso mesmo a paixão repentina deve terminar em sexo. Este é o slogan da propaganda especial de carnaval da Rede Gazeta capixaba. Nas farmácias há descontos especiais para lubrificantes íntimos e camisinhas. Meu amigo Daniel que está visitando sua família em Recife me alerta: “A abertura do carnaval em Recife se deu como um grande culto aos orixás que eram saudados o tempo inteiro, principalmente dois deles (que não lembro quais) que foram considerados os patronos do carnaval em Recife. Foram mais de 2 horas de louvor aos orixás. Apesar de muito bonito, carnaval em Recife é mais que uma manifestação cultural é culto”. E ao mesmo tempo vejo os crentes “progressistas” na internet raivosos com o “fundamentalistas” porque eles estão demonizando o carnaval, que segundo eles é apenas uma festa linda e inocente com pouquíssimos excessos.

Mas, O que há de errado com o carnaval? Afinal, porque a maioria dos evangélicos não participam do carnaval? Quais os limites entre o cristão e cultura? Existe cultura religiosa ou ideologicamente neutra? O que o carnaval significa nos meandros da cultura brasileira? O que significa estado de carnaval? Já digo logo, farei um juízo de fato e de valor também, mas a partir de uma perspectiva bíblica. No tempo que vivemos vale expor que por Bíblica quero dizer que utilizo os textos bíblicos como revelação especial de Deus para os homens, e por isso tem autoridade final sobre toda matéria e juízo ético moral social e espiritual, como se dizia na reforma “norma normativa”.

Antes de qualquer coisa, gostaria de falar um pouco sobre os apontamentos da história antiga que servem como possibilidade para o surgimento do carnaval, de fato temos várias fontes que servem de alicerce para o surgimento do carnaval que nós brasileiros conhecemos. Harvey Cox um teólogo liberal batista norte americano faz uma crítica ao protestantismo interessante, pelo afastamento da cultura popular dando espaço para o secularismo, mas a história que conta sobre o carnaval desconsidera as maiorias esmagadoras das fontes históricas das inúmeras festas populares que servem de suporte para o carnaval acontecer. Então precisamos voltar um pouco na história para compreender o DNA desta festa pagã com uma pseudo gênese cristã. 


2. Afinal de onde vem o carnaval?

Quando se pesquisa sobre a origem do carnaval, de pronto se acha a história do carnaval carioca, mas esta festa além de não ter origem brasileira é bem mais antiga do que nos parece, alguns historiadores atribuem seu início a celebrações egípcias, mas é praticamente consenso entre os pesquisadores que sua gênese é na cultura pagã helênica. 

De origem grega, esta era uma festa de louvor a Dionísio (nome grego), que é mais conhecido como deus Baco (nome romano), mas é a mesma entidade. Baco é conhecido como deus do vinho e fertilidade, as festas funcionavam como louvor pelas colheitas prósperas, pelos nascimentos dos filhos, e por qualquer outro motivo que seja digno de uma comemoração. O louvor a outros deuses que não seja o Deus criador de tudo, o Deus de Israel é considerado pelos cristãos como um pecado grave, advertido pelo próprio Deus quando deu sua Lei a Moises após a libertação do cativeiro.[1] Segundo o decálogo os que praticam essas coisas são inimigos de Deus e vão sofrer duras punições por isto. Veja: “Não terás outros deuses diante de mim. Não farás para ti ídolo de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem embaixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não te encurvarás a elas nem as servirás; porque eu, o SENHOR teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos filhos, até a terceira e quarta geração daqueles que me odeiam.” [2]

Em todo o Império o sistema político e jurídico era predominantemente romano, mas cultura predominante era a grega, a mitologia grega era bem popular em todo o sistema cultural, então as festas dionisíacas eram bem presentes, pois isto quando Paulo estava em Atenas disse que o seu espírito se comovia em si mesmo, vendo a cidade tão entregue à idolatria. [3] A clara proibição divina no decálogo é afirmada por toda bíblia, portanto, meus amados, fugi da idolatria. [4]

Nos bacanais aconteciam orgias, eram comuns as sátiras as autoridades e governantes, e travestir-se com intenção de debochar de alguma estrutura, será moral, política, ladrões vestidos de governantes, prostitutas vestidas de donzelas e etc.. A estrutura da festa gira em torno do escárnio dos acordos éticos e morais de seu tempo.

No século VII o Ditador Pisistra, fez um templo para o deus Dionísio, isto deu certo impulso artístico, e algumas das primeiras peças de teatro foram feitas neste templo. Isto deu a festa ao deus Baco um caráter artístico, mas manteve a essência da adoração a este deus com muita bebida e orgias. A festa Dionísia é o verdadeiro oposto ao conceito cristão de mortificação que encontramos no novo testamento, dando espaço para pratica publica da fornicação, a impureza, a afeição desordenada, a vil concupiscência, e a avareza, que é idolatria. [5]

A etimologia da palavra Carnaval vem da junção das palavras “Carnnis” e “Valles”, Valles significa prazer, e “Carnis” é carne mesmo, então prazeres da carne. Acho que neste ponto vale a lembrança do que nos ensina o apóstolo Paulo em sua carta à igreja de Gálatas, justamente sobre supressão da vida espiritual para dar vazão à vida guiada pelo desejo. “Porque as obras da carne são manifestas, as quais são: adultério, fornicação, impureza, lascívia, Idolatria, feitiçaria, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias, Invejas, homicídios, bebedices, glutonarias, e coisas semelhantes a estas, acerca das quais vos declaro como já antes vos disse que os que cometem tais coisas não herdarão o reino de Deus.” [6]. Algumas pessoas erroneamente consideram o carnaval uma festa cristã, por ser uma festa que começa sempre antes de um tempo cristão, mas como já vimos sua origem é mais antiga que o calendário dos cristãos, ela funciona após o calendário cristão no império romano como uma reação e não tem nenhuma relação com proposta do calendário que era de remontar a história da salvação dos homens por meio da chegada do Messias no mundo, desde o nascimento de Jesus com o Natal até sua paixão e ressurreição na celebração da Páscoa Cristã. 

O carnaval é sempre antes da quarta-feira de cinzas, no ano de 1091, já com o papa Urbano II, se fixou uma data oficial para o período da Quaresma, quadragéssima dies, ou quadragésimo dia, tempo de preparação para a festa da páscoa, são 40 dias de preparação, jejum, oração até o dia ressurreição de Jesus. No entanto, para compensar as privações dos prazeres mundanos, surgiu, por parte dos fiéis, outro ritual, precedendo a esse último, para viverem a polaridade oposta. Pode se imaginar o aumento do consumo das carnes, além dos chamados "pecados da carne".

Na quarta-feira de cinzas algumas igrejas históricas marcam a testa dos fiéis com um sinal da cruz com cinzas, este ato rememora a antiga tradição do povo hebreu no antigo testamento, de jogar cinzas sobre a cabeça como expressão de arrependimento pelos pecados.

No século XIX já havia o costume de enfeitar os carros particulares dando origem aos carros alegóricos, neste tempo a música era polca, valsa, misturou com batuque, lundu, transformou-se no maxixe e por fim o samba. Mas o que temos no Brasil é uma diversidade muito grande desta manifestação cultural, temos o carnaval de trio elétrico com blocos que seguem estes carros de som, temos a Timbalada e existem escolas de samba que se apresentam para uma disputa com premiação em um lugar próprio com arquibancadas, temos o maracatu do baque solto, baque virado, rural, o frevo, os bloquinhos de rua e o carnaboi e o boi-bumbá, etc.

O carnaval como conhecemos hoje no Brasil tem forte contribuição luso-afro-ameríndia, temos uma influência do carnaval da França, que hoje quase esquecida, mas que era um grande baile de mascaras pelas ruas de Paris. Encontramos no meio do carnaval fragmentos da Comédia Italiana, que influenciou com suas colombinas, pierrôs e os arlequins. Portugal nos trouxe o entrudo que era um costume de jogar balões cheio de fezes e urina nas pessoas ou balões com perfumes, até esta pratica ser banida, e também trousse o Rei Momo; Momo (Reclamação) também de origem mitológica grega era uma das filhas que a deusa Nix, era um personagem que não gostava de nada e só reclamava, mas surge depois na cultura do carnaval como o um rei gordo e fanfarrão que autoriza a desordem durante o festejo de carnaval.

3. Mito da neutralidade cultural do carnaval

Os frequentadores de carnaval podem argumentar que esta festa não é religiosa então as pessoas de todas as religiões podem livremente participar, até porque não é um culto então é um evento que possui uma neutralidade religiosa. Esta afirmação só pode ser feita por pessoas com uma compreensão pequena sobre o que é religião porque para o cristão isto não faz nenhum sentido. Veja porque, para o cristão o ato de plantar e colher não é um ato cúltico, mas está totalmente ligado ao Senhorio de Cristo sobre todas as coisas. O ato de comer não é culto, mas também é feito com gratidão a Deus por ser considerado uma dádiva divina. Sina do seu cuidado. 

O que a maioria das pessoas se esquece, e que as grandes religiões monoteístas são narrativas do todo da vida, e através da visão que o fiel tem de Deus que ele compreende todas as outras coisas, religião não o que se faz no fim de semana, não é apenas o rito, mas as lentes pela qual se olha para si, para o outro e para o resto. Então por este formidável motor epistemológico é a causa da neutralidade religiosa de uma manifestação cultural como o carnaval é um equivoco.

Muitos dizem que o juízo argumentativo evangélico sobre o carnaval é arrogante, porque na antropologia moderna já não existe a ideia de cultura superior ou inferior, apenas o conceito de mais ou menos sofisticada. Mas o problema a inevitabilidade moral comparativa, é impossível não fazer juízo de valor sobre uma cultura. Como não questionar os valores culturais da Alemanha nazista? Como não julgar moralmente culturas extremamente machistas que promovem a mutilação do clitóris das mulheres para que não experimente a sexualidade como os homens. 

Estes que afirmam que a única antropologia cultural boa é aquela que se recusa a fazer juízos morais deveriam nos explicar como é possível se calar diante dos sacrifícios de crianças incas.

A contradição é que toda construção argumentativa a favor da neutralidade moral de uma cultura é edificada sobre pressupostos também morais, pois o barramento do juízo de valor sobre a cultura é feito sobre outro juízo de valor considerado superior, e todo juízo de valor é parte de um esquema moral, então dizer que nenhuma cultura é superior à outra, é dizer que a cultura que tem outra por inferior, esta sim se faz inferior, porque quem a julga é parte de uma cultura superior. Isto que se pode chamar de correr atrás do próprio rabo, isto é um tipo de petição de princípio.

Para o cristianismo a centralidade da vida, da existência de todas as coisas, e da ordem das coisas criadas está em Deus. Por consequência disto toda manifestação cultural que não segue o fluxo natural da adoração a Deus é uma cultura desordenada, toda cultura que não tem por finalidade última a adoração a Deus é essencialmente má, é pecaminosa, portanto toda cultura produzida após a queda é ruim e mal. Assim como todos os aspectos da vida e da criação, a cultura está sobre o juízo de Deus.

Mas se tratando de carnaval esta afirmação em defesa de uma neutralidade religiosa me parece meio forçada. Não é preciso fazer muito esforço pra perceber que o carnaval é uma festa com alto gral de vínculo religioso. Basta observar a noite dos tambores silenciosos em Recife, cerimônia religiosa sincrética que dá início ao carnaval no Pernambuco, conduzindo a cerimônia estão babalorichas e pais de santo ao som do maracatu e afoxé. Existe uma cerimônia de saída dos bonecos gigante de Olinda, e segundo a crença alguém deve morrer para dar vida ao boneco, a festa e as danças misturam o macabro com o regozijo, o aspecto religioso está presente em todos os aspectos. O maracatu é bem presente no carnaval pernambucano e as nações de maracatu estão ligadas a religião de matriz africana e/ou ameríndia, como o Candomblé ou Xangô e também a Jurema Sagrada. Mas há quem pense que o carnaval de passarela, de samba enredo da Marque de Sapucaí tem menos elementos religiosos. 

No carnaval de 2014 o renomado carnavalesco Caribé que também tem um centro de candomblé organizou toda a performance da escola união de Jacarepaguá, a fim de propagar o candoblecismo. Em entrevista para um site de notícias sobre o carnaval ele deixa claro como vê o carnaval como espaço para o discurso religioso[7]. A atriz Viviane Araujo fantasiada representando a pomba Gira na avenida, a tão falada comissão de frente da Salgueiro que diz homenagear “povo da rua”, mas ao invés de entrar alegorias do povo da rua vão entrar sete entidades da umbanda chamadas de zé pilintras, e sete mulheres serão pombas-gira. O elemento principal é exu.[8] Leia com atenção a apresentação oficial do enredo em 2015 pela escola mocidade alegre: 

“Sob a luz do carnaval, o G.R.C.E.S. Mocidade Alegre – eterna guardiã da cultura e das heranças afro-brasileiras – pede agô a todas as forças do céu, da terra e da vida para exaltar o maior fundamento de sua existência: o Samba!
Buscando as raízes mais profundas do ritmo que simboliza o país encontramos, nas matrizes africanas, Ayọ: força ancestral liberta de um tambor por Xangô. Por sua vitalidade intensa e fascinante, presente nas celebrações e nos rituais, Ayọ foi consagrado na África Ancestral como o orixá do som e da música!
A presença de Ayọ pode ser sentida por todos: a partir do momento em que um tambor é tocado, seu som reverbera e mexe com nossos sentidos, pois o coração bate mais forte, a pele arrepia, dá vontade de cantar, de dançar, de ser feliz...
Ayọ foi liberto por Xangô. Trazido ao Brasil pelos ventos de Oyá, foi espalhado por todo o Brasil pelo arco-íris de Oxumaré, fazendo os tambores ecoarem em diversos ritmos que se dialogam. Omolú, senhor [9]da Terra e suas entranhas, aqui o transmutou para que surgisse o samba: voz do povo brasileiro e símbolo de um país. Ogum, grande protetor do povo brasileiro e dos sambistas, zela para que o samba tenha alegria, comunhão e garra, o eterniza! Que rufem os tambores – com alma, com raça, com vibração – para que seja sentida por cada coração a força de Ayọ... A Alma Ancestral do Samba! Axé, Família Mocidade Alegre!”

4. Carnaval é tentar ser feliz e não conseguir

O carnaval no Brasil é um bombardeio propagandista de um estado de satisfação e felicidade. É um dos maiores eventos populares do mundo, e já não podemos falar do carnaval como uma festa única e sim uma festa múltipla. Temos vários carnavais espalhado pelos nossos diversos Brasis. Mas este brevíssimo e não conclusivo apontamento não é sobre a estrutura mecânica ou sociológica da festa, mas de algo que chamo aqui de Estado de Carnaval. Penso que devemos olhar de forma mais séria para a promessa de felicidade no imaginário popular do brasileiro ligado ao carnaval, uma felicidade que advém da festa, não só do carnaval, mas de qualquer festa. Mas especialmente no carnaval esta expectativa é dobrada. Mas não é por menos esta é a maior festa do país, há quem diga que somos o país do carnaval. O contraditório é que a grande maioria das pessoas buscam alcançar a vida boa por meio da ordem no trabalho, da ordem na família e da ordem na sociedade. 

O carnaval é conhecido pelo tempo suspensão moral, onde vale tudo, embriagar-se até cair no chão, perder o caminho de volta pra casa, sexo sem nenhum compromisso, sexo feito na rua irrompendo os limites da intimidade, beijar inúmeras pessoas enquanto segue o trio elétrico, ou mesmo usar qualquer tipo de droga sem qualquer intimidação. Carnaval na mente dos frequentadores é um estado de suspensão moral.

As pessoas utilizam outras categorias de pensamento para medir suas ações no período de carnaval, esta outra estrutura epistemologia que chamo de estado de carnaval. É uma estrutura moral guiada pelo desejo e pelo afeto puro, a razão funciona apenas como legitimadora da autonomia da vontade como um motor da autocompreensão, pois se pensar muito acaba não fazendo o que se pode fazer no carnaval. Estado de carnaval é suprimir as possibilidades de um amanhã consequente, e amar o desejo como se não houvesse amanhã.

Se o carnaval é a livre vazão do desejo então segundo a filosofia antiga está é uma festa antiética. A filosofia antiga tem por fundamento ético a felicidade, uma vida boa, por isto é chamada de ética eudeimonica. A ética dos gregos é uma ética da virtude, onde agentes muito bem educados buscam a felicidade não como um estado do corpo, então não pode ser a excitação sexual ou uma explosão de sensações de qualquer motivo. A felicidade não é uma atividade do corpo, mas da alma, divergindo com a compreensão contemporânea da felicidade como um estado psicológico. A felicidade para Aristóteles é o bem supremo, que é o fim ultimo de todas as coisas, que em São tomas de Aquino interpreta como o próprio Deus. 

“... para que uma escolha seja boa, tanto a razão deve ser verdadeira quanto o desejo deve ser correto. E este deve buscar exatamente o que aquela determina.” [10]

Uma escolha boa é fruto de uma razão que seja verdadeira, e o desejo está sobre o domínio desta verdade, determinado pela razão verdadeira, assim temos um desejo correto.

Toda ação no pensamento grego tem um pressuposto moral. E a moral pressupõe uma reflexão que combina pensamento e caráter. A ação deve ter por finalidade a felicidade, mas só alcançamos isto com a um pensamento moral.

"A origem da ação (causa eficiente, e não final) é a escolha, e a origem da escolha, e a origem da escolha está no desejo e no raciocínio dirigido por algum fim. É por isto que a escolha não pode existir sem razão e o pensamento ou sem disposição moral, pois as boas e as más ações não podem existir sem uma combinação de pensamento e caráter. "[11]

O carnaval é considerado um arauto da felicidade do brasileiro, somos considerados por outras nações como um dos povos mais felizes da terra, e esta imagem é mantida pela grande festa de carnaval que só no galo da madrugada arrasta mais de 2 milhões de foliões para as ruas do Recife antigo. Mas está é uma comemoração pelo que? É um tempo de alegria sem causa, é o festejo pelo acaso e a comemoração da sensação. Isto na verdade não deveria ser considerada felicidade, se Aristóteles estiver certo a felicidade é uma atividade da alma em consonância com a razão. Todo felicidade deve ser então ética, que só é possível por meio da virtude moral. 

O agir é satisfazer um desejo, e só sei se o desejo é bom pelo juízo da razão. Um cão não é feliz, é satisfeito, felicidade comporta uma moral e cão não tem moral. O carnaval desde seu gênese é uma promessa de felicidade por meio da liberação moral, mas esta libertação gera justamento o oposto, a imoralidade, por consequência felicidade. Já deu pra perceber quanto nos distanciamos da ética moral dos filósofos da Grécia antiga.

A felicidade é teleológica ou seja está a disposição de um fim, e para o homem é realizar seu próprio fim na forma melhor. Então ser feliz é cumprir sua essência, estar no lugar que lhe é próprio, cumprir o seu lugar na ordem criado por Deus. Então o que distingue o desejo bestial do desejo humano? O bestial é a pura satisfação do desejo, que não é suficiente para ser feliz. O desejo humano que finda na vida feliz é racional e moral. Não basta desejar tem que desejar bem. Não é difícil entender os altos índices de violência e morte, de acidentes no trânsito, de gravidez não planejada, de infecção por doenças sexualmente transmissíveis. O governo gasta milhões em financiamento da festa em propaganda contra violência e prevenção as DST´s e distribuição de camisinhas. Não é difícil de entender porque o efetivo policial nas ruas é quase dobrado, parece até que a cidade vai ser invadida por um povo violento, beberrão e tarado. Mas estão todos sobre o efeito do estado de carnaval, esta ilusão de felicidade que nega as consequências das ações, mas que não tem nenhum mecanismo para que a felicidade aconteça e nem para que a consequência das más ações não os atormente.

5. Ainda sobre a felicidade 

“Enquanto se tem à disposição mais possibilidades de satisfações, mais inacessível parece estar a felicidade do indivíduo hiperconsumidor.” Gilles Lipovetsky

O que Lipovetsky denuncia é que nosso tempo é testemunha de uma jornada que a humanidade trilhou rumo à felicidade, mas que desaguou em um circulo vicioso de angustia. O consumo não é a compra de produto porque ele é útil, mas porque a sensação de compra faz pulsar uma expectativa de que algo bom vai acontecer, um fetiche pelo novo. O hiperconsumo é o cosumo de sensações, como são apenas pulsos que dão sensação de vida entre o espaçado tempo de angustia a felicidade é apenas uma miragem. Mas este estado deplorável não aconteceu por acaso. 

A modernidade inaugura no pensamento cartesiano um racionalismo que finda em um abandono a ideia de transcendência, por meio da duvida metódica que é um processo puramente racional, então podemos chegar a um lugar seguro. 

Em Kant já vemos um imanentismo na primeira seção da fundamentação da metafísica dos costumes, Kant não precisa da ideia do bem, mas da vontade, a autonomia da vontade é o principio supremo da moral, uma moral boa não pressupões uma ideia de Deus. A vontade é a condição de possibilidade onde todos de forma autônoma podem chegar. A vontade está no centro o imbróglio da liberdade, o que podemos fazer a partir de nós mesmo. A vontade na critica kantiana é boa em si mesma, não há um meio para um fim.

Esta liberdade representada pela autonomia da vontade que é boa em si mesma, justamente por ser autônoma, é um virar de costas pra um ordenamento moral que seja extrovertido. O homem passa a olhar para si como centro do mundo e Deus se torna uma ideia de barramento para o despertar da potência interna do ser humano. É o homem tomando nas próprias mãos os rumos de sua história. Este humanismo secularista abre espaço para o historicismo e o materialista, e a cultura é vista como uma sucessão de consequências objetivas, mas isto da lugar para uma vazio de sentido, se nosso futuro está a mercê de uma mera consequência e não há nada para alem desta vida o homem vira uma máquina, seja na produção de bens ou de cultura. Não havendo uma esperança no amanhã o povo grita com um sorriso falso, “é preciso amar como se não houvesse um amanhã”.

Este homem perde a confiança em um Deus que lhe garantiria uma vida futura em um reino de paz, alegria eterna e amor verdadeiro. Não se espera mais do futuro, mas do agora, o paraíso deve ser realizado ate o fim do dia. Não existe amanhã.

Este processo de introversão, de interiorização, se aguda com a subjetividade freudiana, como alivio para os problemas da angustia humana, o homem olha para sua subjetividade com lentes grandes, este auto centramento impediu o homem de ver o caos se formar ao redor, e acorda com uma ferida narcísica por perceber como diz Nietsche, que o sol nasce independente de nós. 

Este homem hiperconsumista, imanentista e altamente psicologisado tenta instaurar o paraíso por meio do prazer eterno vivido em uma noite, surge a cultura das baladas, que no caso das raves dura bem mais que uma noite.

Agora perceba o signo do carnaval dentro deste cenário, é justamente um consumo de sensação é uma alegria que não chega e acentua a angustia. 


[1] Os Dez Mandamentos ou o Decálogo é o nome dado ao conjunto de leis que segundo a Bíblia, teriam sido originalmente escritos por Deus em tábuas de pedra e entregues ao profeta Moisés (as Tábuas da Lei). As tábuas de pedra originais foram quebradas, de modo que, segundo Êxodo 34:1, Deus teve de escrever outras. Encontramos primeiramente os Dez Mandamentos em Êxodo 20:2-17 e, depois, em Deuteronômio 5:6-21, usando palavras similares. 
[2] Êxodo 20:1 á 5. 
[3] Atos 17:16 
[4] 1 Coríntios 10:14 
[5] Colossenses 3:5 
[6] Gálatas 5:19-21 
[7] http://www.carnavalesco.com.br/noticia/unio-de-jacarepagu-quer-alertar-contra-intolerncia-religiosa/7345 
[8] http://extra.globo.com/tv-e-lazer/roda-de-samba/exu-sete-pombas-gira-na-comissao-de-frente-do-salgueiro-18508962.html#ixzz3z6noG3kA 
[9] http://www.mocidadealegre.com.br/index.php?id=1575 
[10] Erica a Nicômacos, livro VI. Seção 1139b. Aristóteles. 
[11] Etica a Nicômacos, livro VI. Seção 1139b. Aristóteles.

2 comentários:

daenansaathoff disse...

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